Recentemente o prédio do extinto Hospital Nogueira de Souza
de Casimiro de Abreu foi reformado e redimensionando para funcionamento da Sede
da Secretaria Municipal de Saúde. O local nos remete a memoráveis conquistas
dos Casimirenses e lutas que marcaram quase 50 anos de crescimento da saúde
pública em nosso município.
O Nogueira de Souza foi municipalizado em 1996 e desativado
em 2007. Pesquisando, descobrimos que desde 1961 já existia grande parte do
prédio. Na época o Tenente reformado do Exercito Brasileiro, João dos Santos
Pessoa havia sido um dos precursores para coordenar as obras do prédio inicial,
no meado dos anos 50, através da Associação Beneficente Nogueira de Souza, que
recebeu esse nome devido à vontade em vida do seu patrono, Nogueira de Souza, morador
de Barra de São João que deixou o terreno e algum dinheiro, para que ali fosse instalada
uma entidade para benefício da comunidade Cabreuense, pois assim éramos
chamados à época.
A decisão pela construção de um ambulatório médico, que
poucos anos depois veio ser o Hospital Nogueira de Souza, além da vontade do
Tenente João dos Santos Pessoa, certamente foi influenciada pelo Farmacêutico
de tradicional família de Casimiro de Abreu, Sr. Nilton Macabú, pai do nosso
amigo Toney Macabú, proprietário das drogarias Macabú.
Em plena Revolução no Brasil de 1964, a paróquia Nossa
Senhora da Saúde recebera o novo pároco, o Padre José Maria. Missionário que
viu nas atividades da Associação, com a influência de vários católicos, a
oportunidade de concretizar o sonho dos Cabreuenses de ter o seu hospital
próprio. Logo no ano seguinte, o padre trouxe as irmãs de caridade Hugolina,
Cristina e Estefânia. A elas foi dada a missão de tornar, através da caridade, aquele
sonho em realidade. A irmã Hugolina se despontava como líder nata, dentre as
irmãs e comunidade, unindo-se a novos entusiastas para missão de trazer
donativos e patrocínio para viabilizar o funcionamento do futuro Hospital.
O entusiasmo pelo hospital próprio foi tamanho que no final
dos anos 60, a irmã Hugolina fez uma comitiva composta pelos Cabreuenses Acir Araújo, Dona Lourdes Rosa Motta, dentre
outros, e foi ao Programa na extinta TV Tupí, canal 6, chamado o “O Céu é o Limite”, apresentado pelo líder de
audiência da época J. Silvestre. No
programa, diante dos apelos, foram concretizados inúmeros donativos da Capital
do Estado e do resto do Brasil. Depois desse episódio, o Hospital Nogueira de
Souza começaria virar realidade.
Mesmo na condição anterior da Associação Beneficente Nogueira
de Souza, no local funcionava um ambulatório improvisado com voluntários e práticos
como a D. Gení da Cruz Leite, parteira, possibilitando que muitos Cabreuenses
nascessem lá. Hoje reclamamos pela falta de médicos; naquela época médico era
uma raridade e os poucos que tinham, vinham com uma frequência tão pequena que
a doença esperava ou preliminarmente era resolvida pelo Sr. Nilton Macabú ou tratado
com remédio caseiro. Ouvi relatos que os médicos pioneiros foram Dr. Aguinaldo,
vindo de Silva Jardim, o jovem solteiro, que dizem, ter sido muito galanteado
pelas moças, Dr. Luiz Carlos Bueno Machado, Dr. Galvão de Castro e Dr. Laurindo.
Antes do Ambulatório da Associação funcionar, por volta de
1965/1966, o então prefeito, Dr. Wilson de Barros, utilizou as instalações do
Hospital como sede provisória da Prefeitura e lá permaneceu até que a Sede da época
e atual da prefeitura ficasse pronta.
Na época, anos 50 e 60, Saúde pública era algo para poucos!
Casimiro Sede só veio ter uma Unidade de Saúde Pública Ambulatorial em 1974 com
a inauguração do atual Posto de Saúde Dr. Manoel Marques Monteiro, construída pelo
Governador do Estado Raimundo Padilha.
Antes disso a Dona Geni da Cruz Leite, Sr. Nilton Macabú, Dona Edir Rosa
e Sr. Almerindo (os três últimos funcionários do governo do Estado), se viravam,
e provavelmente foram os primeiros profissionais de saúde na área de atenção
básica. O que existia era um Posto de Saúde improvisado numa casa da família de
Sr. Nilton na Rua Padre Anchieta, na altura do Rio Indaiaçu. Neste Posto
Improvisado, tinha médico a cada 15 dias, Dr. Mário Laje. Vinha no trem
(Expresso) das 10:40h e retornava as
14:40h, pois usava o intervalo que o trem levava de Casimiro X Macaé X
Casimiro, para atender e retornar a sua residência em Rio Bonito.
Prova disso é que na época, especificamente em 20/12/1968,
onde a assistência de saúde era vinculada a extinto INAMPS, o município de
Casimiro de Abreu, através da Deliberação nº 46 firmou Convênio com o Hospital
São João Batista de Macaé, pois quem não pagava o INAMPS, simplesmente tinha
que pagar particular para ter atendimento médico, ou simplesmente ser atendido
pelos práticos em saúde, profissionais que aprendiam no dia-a-dia a prestar
atendimento de forma precária e solidária. Ouvi dizer que a irmã Augustina, por
volta de 1975-177 foi a primeira professora a capacitar o pessoal de enfermagem,
aplicando o curso de Atendente de Enfermagem, a pedido do Padre Paco.
Só no início dos anos 70 que vieram as primeiras ambulâncias dirigidas pelo Sr. Raimundo e tantas outras lutas para que aos poucos, começassem funcionar o regime de plantão, internação, centro cirúrgico, lavanderia, cozinha, etc.
Segundo relatos de D. Ávila S. Gaspar, funcionária e responsável
pela cozinha do Hospital de 1974 a 2006, Sr. Nilton Macabú, Cabreuense que
provavelmente, por mais tempo dirigiu e se dedicou ao Hospital Nogueira de
Souza, mantinha um galinheiro no pátio para abastecer a cozinha, fruto de uma
época difícil, pois o convênio com o INAMPS só veio no final dos anos 70, com
implantação muito lenta e o sustento do Hospital era baseado na mensalidade
arrecadada pela Associação Nogueira de Souza e doação da comunidade.
Muitos Cabreuenses que não citei dedicaram décadas de vida
trabalhando lá, alguns na ativa ainda, como José Maria (RX), Albino, Claudinei
e Ademar (enfermagem), Beth, Aldreir, Adelma (administrativo) e Nazareno (gesso
e RX). Numa breve lembrança destaco outros como D. Jorgina e D. Celi Sevilha (lavanderia),
Alcione (enfermagem), Angela Simões, técnica de
enfermagem que deu o nome ao atual Hospital Municipal. Eu mesmo trabalhei lá cerca de 8 anos (1988-1996), época muito sofrida e
gratificante.
Dentre muitas situações curiosas que vale destacar, muitos dos
ex-funcionários se lembram dos atrasos memoráveis de salário, certa ocasião
chegou até quatro meses, mas ninguém deixava de trabalhar, tudo funcionava e
todos continuavam ajudando, era por amor mesmo! Em diversas ocasiões,
especificamente na década de 80 e inícios dos anos 90 o Hospital Nogueira de
Souza foi manchete de jornais e televisão pelos escândalos de Gestões
fraudulentas, mas sobrevivemos a isso tudo!
Lá, também, sempre foi palco de disputas políticas, tanto que
do trabalho exercido na instituição, elegeram-se vereadores Dr. Luiz Carlos
Bueno e Dr. Baldez, assim como quase o hospital deu ao município um prefeito,
pois o Diretor administrativo “Figueiredo” candidatou-se em 1988, sendo vencido
por Célio Sarzedas, atualmente vereador em nosso município.
Enfim, muitas são as histórias que marcaram o Hospital
Nogueira de Souza, mas a felicidade de ter aquele prédio preservando à memória
da saúde de Casimiro de Abreu nos deixa muito feliz.
Eliezer Crispim – Administrador - Vereador
Colaboradores: Acir Araújo, Ercília Araújo, Ávila S. Gaspar,
Israel Cidele, Brasil....
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